Paper E. Oliveira 2019
“Qualis sit nutrix eligenda: a ama de leite no De uniuersa mulierum medicina de Rodrigo de Castro”, Gynecia – 1st Conference, Lisboa, 2019.
A amamentação materna tem despertado ao longo dos séculos o interesse e a preocupação de variadíssimos autores. A discussão das suas implicações fisiológicas, morais e sociais atravessou a Antiguidade, a Idade Média e o Renascimento. A ideia generalizada, ainda hoje defendida, de que o melhor alimento para a criança recém‑nascida é o leite da mãe vinha sendo discutida, pelo menos, desde Hipócrates. Abraçada por variadíssimos autores, não apenas médicos, apesar de a sua aprática e a sua utilidade terem sido postas em causa pelo menos até ao final do século XIX, converteu‑se num tópico recorrentemente abordado nos tratados sobre a natureza, as condições e as doenças das mulheres.
Rodrigo de Castro, que não foi alheio a esta circunstância, dedicou os capítulos 12 e 13 do Livro Quarto da Primeira Parte do seu De universa mulierum medicina à discussão teórica das vantagens do aleitamento materno e dos critérios em que deveria assentar a escolha de uma ama de leite. As explicações e os argumentos aduzidos pelo autor – muitas vezes bebidos de autores anteriores a si próprio e seus contemporâneos – procuram dar resposta às interrogações que preocupavam a sociedade e os médicos do seu tempo.
Com este trabalho, pretendemos analisar a influência de textos médicos antigos, medievais e renascentistas que trataram a mesma temática, a fim de identificar e refletir sobre os elementos de tão longa tradição incorporados pelo médico português na sua obra.